domingo, 24 de maio de 2020

As Intermitências da Morte - José Saramago

Ler Saramago só representa desafiar a escrita peculiar até os olhos se acostumarem ao estilo dos parágrafos extensos, sem marcação convencional de diálogo e em português de Portugal. Mas não se preocupe, rapidamente você se costuma e a leitura flui com facilidade.

As Intermitências da Morte é um livro que chamou a minha atenção por representar um cenário quase que oposto ao que estamos vivendo atualmente. Em determinado país, na virada de determinado ano, as pessoas param de morrer. O que inicialmente parece uma bênção, vira uma enorme catástrofe. Veja bem, não é como se as pessoas subitamente atingissem o máximo da saúde coletiva e ninguém mais chegasse ao estado da iminência da morte. Acidentes continuaram acontecendo, doenças continuaram aparecendo e a velhice insistia em mostrar as suas caras. Quem estava moribundo, permaneceu moribundo
, em um estado de "morte suspensiva" - o que se mostrou extremamente desagradável para os moradores daquele país.

Saramago tem insights excelentes ao mostrar as implicações do "não morrer" como uma lição para aqueles que, apavorados pelas incertezas (ou pela certeza) do que a morte traz, desejam ardentemente que ela nunca chegue. Ser privado da morte é uma tormenta muito maior do que morrer. O autor apresenta com maestria as consequências sociais de não morrer o que esta nova condição de vida sem fim traria para seguimentos religiosos, políticos e econômicos.

O primeiro terço do livro me deixou maravilhada e empolgada com a leitura. Depois de então a história se arrasta e fica extremamente cansativa. As ideias iniciais se esgotam e ficamos com a sensação de que o livro se prolongou para além dos seus limites naturais.

Nota: 4/5
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 207

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