quinta-feira, 2 de abril de 2020

Viagem ao Harz - Heinrich Heine

Algumas pessoas precisam de motivos - desculpas - para escrever. Não sei se isso é uma consequência direta da vergonha. Talvez lhes pareça arrogante ou soberbo sair distribuindo ao mundo seus pensamentos e considerações, ou hesitam em se expor para não parecerem carentes. Em todo caso, definitivamente não é o que eu esperava de um dos maiores nomes da literatura alemã.
Viagem ao Harz é exatamente o que diz seu título: o primeiro de seus diários de viagem que se tornariam uma coleção (não pretendo ler os outros). Um leitor astuto percebe logo de início que tal diário é apenas um pretexto para dar vazão a algo anteriormente definido, levantando assim a dúvida se também a viagem por si só não teve o mesmo objetivo. Viajar para se afastar dos problemas cotidianos e espairar a mente é praticamente um clichê humano.
Pois bem, o livro é estupidamente alemão. Algumas partes fizeram tanto sentido para mim quanto um berimbau deve significar para um esquimó. E apesar disso, talvez por termos um entendimento de alguns aspectos da cultura alemã como os contos de fadas, a essência do que é dito é facilmente  compreensível. Os locais em que a "ação" ocorre são quase universais, como bares, igrejas, estalagens, estradas, florestas, e até mesmo os lugares mais distintos são reduzidos a fatores tão básicos de descrição que se tornam até familiares, como as minas de carvão e topos de montanhas.
A magia acontece mesmo é nas relações interpessoais. Estudantes parecem que estão em todos os cantos e sempre fazendo algo impróprio ou instigante. Trabalhadores estão sempre sublinhando aspectos curiosos de seu ofício. As mulheres... bem, estão sempre lá para serem admiradas. E cada personagem, que em certo ponto tem sua veracidade questionada pelo leitor mais cético, sempre levanta a bola para o autor, muito necessitado de tal oportunidade, discorrer sobre os temas mais variados. Um protótipo de Ulisses.

Nota: 3/5

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Obra de Arte na Época da Reprodutibilidade Técnica - Walter Benjamin

De tempos em tempos as mudanças de paradigmas exigem dos pensadores uma ressignificação dos conceitos. Talvez o maior alvo desse fenômeno ...