quinta-feira, 26 de março de 2020

A Paciente Silenciosa – Alex Michaelides



Agarrei o computador para escrever esta resenha assim que fechei a última página do thriller psicológico de Alex Michaelides. No presente momento, os pedaços da história ainda estão se reacomodando e se acostumando às informações novas do seu final surpreendente.



A Paciente Silenciosa narra o tratamento de Alicia Berenson pelo psicoterapeuta Theo Faber. Alicia foi uma talentosa artista que, inesperadamente, deu 5 tiros no rosto do seu marido Gabriel. No momento do julgamento, as motivações do crime estavam obscuras. Sabe-se que ela sempre demonstrou profundo amor e carinho pelo esposo e que foi encontrada, logo após o assassinato, ao lado do corpo mutilado do marido, perto da arma do crime e com o pulso cortado, em uma tentativa fracassada de tirar a própria vida. Após o crime, Alicia nunca mais falou; muda, não pôde se defender e foi internada em um manicômio judicial na Inglaterra.



Seis anos após o ocorrido, o psicoterapeuta Theo Faber demonstra interesse profissional no caso. Ultrapassando os limites impostos pelo distanciamento entre paciente e terapeuta, Faber arquiteta um plano para ser contratado pelo hospital em que Alicia está internada. O livro demonstra a flexibilização da ética profissional de Faber que enquanto terapeuta busca solucionar o caso ao mesmo tempo em que lida com a carga emocional de sua infância abusiva. Os tratamentos de Alicia se confundem com os de Theo quando este constrói uma relação em que se torna difícil distinguir o terapeuta da paciente.



Michaelides desenha uma história que conta abusos sofridos por pessoas com transtornos mentais e a dificuldade de um tratamento humano em manicômios judiciais. Alicia parou de falar muito depois de terem parado de ouvi-la. Acompanhar Alicia significa nos aproximar das histórias de abusos em hospitais psiquiátricos, de silenciamento dos pacientes e de negligência por parte daqueles que preferem dopar e esquecer a acolher e ouvir.



O livro é incômodo e nos relembra daqueles que, mais por imposição do que por escolha, não podem contar a própria história.



Editora: Record

Páginas:350 Palavra-chave: ficção cipriota

Nota: 4/5


Um comentário:

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