Sim, mais um livro de memórias com foto do autor na capa. Mas eu me rebaixar a esse tipo de baixa literatura novamente em tão curto espaço de tempo se deve unicamente à minha curiosidade de ver como Jodorowsky, um dos meus diretores cinematográficos favoritos, se sairia no universo das letras. Não é o primeiro nem último livro dele, que já publicou uma biografia e também obras sobre temas míticos como o tarô, mas foi o primeiro que achei com um preço aceitável.
Qualquer um que tenha assistido um mísero trecho de qualquer um de seus filmes rapidamente desconfia que sua mente trabalha em uma frequência peculiar, e a mesma impressão surge já nas primeiras páginas dessa narrativa que percorre o tempo em que esteve em contato com Ejo Takata, um monge zen japonês que lhe serviu de mestre.
Jodorowsky é um contador de histórias com estilo único, e muitas vezes "recorda" histórias com um nível de absurdo e detalhamento que se mostram improváveis ou até mesmo impossíveis. Sua cartada, na maioria das vezes, para "provar" a veracidade é incluir uma foto da pessoa citada ou de algum documento, o que apenas demonstra que parte do narrado é real, mas deixa uma dúvida na cabeça do leitor. A parte mística, pessoalmente, achei dispensável e em alguns momentos monótona. Fica no ar se ele detém de fato um vasto e profundo conhecimento do espiritual ou está no gradiente da esquizofrenia. Nesse tema, destaco os koans - pequenas adivinhações japonesas supostamente profundas - que são trocados por ele e o mestre durante toda a leitura, muitas vezes com insights espirituosos e cômicos.
O livro contém uma sobremesa que para mim é sua melhor parte: Um último capítulo denominado "Anedotário", que é exatamente o que eu desejava de um livro de memórias de Jodorowsky: pequenos textos sobre seus encontros com celebridades como Dalí, os Beatles, Pablo Neruda, Marilyn Manson, ocasiões onde aplicou os ensinamentos recebidos diretamente na vida pessoal e curiosidades diversas de sua carreira como cineasta e diretor de teatro que deveriam ocupar um espaço maior na obra. Minha torcida é que algum dia uma versão mais completa desse capítulo se torne um livro por si só.
Nota 3.5/5
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