quarta-feira, 8 de abril de 2020

O Reino da Fala - Tom Wolfe

Tom Wolfe é um grande jornalista. Talvez uns dos melhores que já passou pela terra. Essa era minha impressão após ler The Right Stuff e Back to Blood. E era isso que eu esperava ver em ação novamente em O Reino da Fala. E que surpresa boa, descobri mais uma faceta genial do autor: a divulgação científica.
O tema do livro é a linguagem. Mas ela aparece somente quando necessária, Wolfe sabe que é preciso preparar o terreno antes de, nas últimas páginas, apresentar sua engenhosa teoria de forma que não pareça simplória demais. Dividida em duas partes, a obra começa com uma crítica à teoria da evolução e Darwin. Uma crítica, na verdade, menos da teoria da evolução e mais do seu uso, e menos da figura histórica de Darwin e mais da sua posição social. Tudo se cruza nas diversas referências caprichosamente detalhadas de cartas, documentos e diálogos prováveis reunidos com maestria. A vida privada de Darwin e suas atividades acadêmicas são expostas de uma forma que até então eu jamais tinha visto. O objetivo é delimitar a diferença entre o trabalho intelectual exercido por ele e o trabalho de campo feito por ilustres anônimos que, a milhares de quilômetros, tornou possível a produção da teoria da evolução. E, claro, utilizar isto na parte seguinte.
A vítima da segunda parte é Noam Chomsky. O linguista e ativista que em determinado ponto se tornou a referência na área, dizendo ter esquematizado e descoberto todo o conjunto linguístico em uma teoria universal - e que não por acaso estava ligado à evolução. Tudo isso, sem trabalho de campo. Eu jamais gostaria de ter Wolfe como inimigo. São páginas e páginas de destruição da personalidade e trabalho de Chomsky, culminando na apresentação de sua antítese, Daniel Everett, que provou nas aldeias amazônicas que tudo que imaginávamos saber sobre linguística estava equivocado. E aí, com tudo destruído, chegamos na teoria mneumônica que Wolfe diz acreditar. Se eu acredito? Honestamente não fiquei convencido, mas fiquei interessado, o mais importante após ler uma obra de divulgação científica. Everett e Chomsky estão na minha lista de leitura agora, graças a Wolfe. Bom trabalho.

Nota: 4/5 

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